terça-feira, 30 de julho de 2013

MÚSICA DO DIA

A canção a seguir é um hino para os românticos. Foi escrita por Gary Geld e Peter Udell e gravada originalmente em 1960, pelo grupo The Four Voices, mas não fez sucesso. Em 1962, Brian Hyland (cantor de músicas como Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polka Dot Bikini, fazendo sucesso no Brasil como Biquíni de Bolinha Amarelinha) foi o primeiro a lograr êxito com a canção. A música ganhou várias versões, e no início da década de 1990 teve a versão brasileira, de autoria de Carlos Colla, cantada pela dupla Luan & Vanessa. O apelo amoroso da música é tão forte que a própria dupla acabou casando tempos depois de iniciada a carreira. A canção ficou durante 26 semanas nas paradas de sucessos, em 1990. Em inglês, seu título é Sealed with a Kiss, mas no Brasil é conhecida como Quatro Semanas de Amor. Curta a versão brasileira!



Quatro Semanas de Amor

Foi um sonho de verão,
Numa praia,
Quatro semanas de amor
Em noites de luar,
Sob a luz das estrelas,
Eu e você
O seu nome eu escrevi
Na areia
A onda do mar apagou
Em cada pôr de sol
A saudade incendeia
Meu coração
Te amo
Não me esqueça
O sonho não acabou
Eu vou ficar te esperando
Não quero dizer adeus
Sem você eu vou ficar
Tão sozinho
Quando o inverno chegar
Mas quando o sol nascer
Vai ser tão lindo
Eu e você
O seu nome eu escrevi
Na areia
A onda do mar apagou
Em cada pôr de sol
A saudade incendeia
Meu coração
Te amo
Não me esqueça
O sonho não acabou
Eu vou ficar te esperando
Não quero dizer adeus
Sem você eu vou ficar
Tão sozinho
Quando o inverno chegar
Mas quando o sol nascer
Vai ser tão lindo
Eu e você, eu e você, eu e você
(Retirado de letras.mus.br

sábado, 27 de julho de 2013

O 27 DE JANEIRO QUE JÁ DURA 182 DIAS...

Seis meses. Pouco para quem vive descompromissado, muito para quem espera, eterno para quem convive com a dor, o sofrimento, com a alma atônita. Lembro que antes de tudo ocorrer, aleatoriamente escolhi uma frase para fechar minha madrugada no Twitter, que era a seguinte: "A morte nos fala com uma voz profunda para não nos dizer nada.", de Paul Valéry. Mal sabia que alguns MINUTOS depois surgiria a informação de que uma boate estaria pegando fogo em Santa Maria. Logo, confirmou-se que a boate era a Kiss, surgindo uma certa preocupação, já que muitos conhecidos, amigos frequentavam o local. Já nas primeiras fotos, as cenas eram impressionantes, e os primeiros relatos desde a Andradas eram assustadores. Corpos pelo chão, taxistas, policiais, populares socorrendo as pessoas. Começou dentro de mim uma sensação de inquietação, nervosismo, medo de ter perdido alguém. Às cinco da manhã, quando passei informações para a Rádio Gaúcha e para a Rádio Província, de Tenente Portela, as informações davam conta de que cinco pessoas tinham morrido no sinistro. Dali pra frente, os números viraram uma bola de neve. Quando saí de casa, para acompanhar de perto os desdobramentos, o número já era de 90 mortos. Antes, um dos seguranças informou que poderiam, segundo ele, haver mais de 150 corpos dentro do prédio. Mesmo assim, nada me fazia acreditar que aquilo ocorreu. A ficha foi cair ao chegar perto do Hospital de Caridade. Naquela hora, percebi a verdade da situação, a gravidade, o desespero. Ao me aproximar da Acampamento, na direção da Avenida Rio Branco, o clima ganhou um ar pesado, e não era do calor intenso que já fazia àquela hora da manhã (perto de 8:30). Era uma sensação estranha, difícil de explicar, mas uma das piores que senti na vida.

Diante da Rio Branco, o cenário era de atentado terrorista: só passavam carros oficiais, pessoas chorando, ligando para informar sobre a confirmação de que alguém de suas relações estava na boate ou perguntando se poderia estar lá. Um cheiro de queimado invadia o local, e ainda se notava a fumaça saindo do teto. As pessoas aglomeravam-se tentando acompanhar o resgate, e a tristeza já era notável em todos os rostos, em todas as palavras. Todo o aparato policial, jornalístico, médico, era de guerra, de filme, de ficção dos livros escritos pelos mais mirabolantes autores. O roteiro era cruel, mas não estava impresso em letras em folhas de papel, e sim ao vivo, sendo documentados pelos meus olhos e pela minha voz aos ouvintes da Rádio ABC 900, para qual falei até o início da noite. Naquele dia, estava escalado para narrar na Rádio Estação Web o jogo entre Caxias x Internacional, pelo Campeonato Gaúcho, que veio a ser cancelado, junto com toda a rodada, pois não havia clima algum para falar de futebol ou qualquer outra coisa em meio ao caos no Centro do Rio Grande do Sul. E se houvesse jogo, sinceramente, não teria a menor condição de relatá-lo. Desde pequeno tenho total dedicação, prazer em ouvir e falar em rádio, mas nada é mais valioso do que uma vida.

Após às 11:00, saí das imediações da Kiss e fui para a área da E.E.E.M. Cilon Rosa e do Centro Desportivo Municipal, na rua Appel, onde seriam feitas as identificações dos corpos, com suas liberações para fazer o velório no Farrezão ou em algum outro lugar escolhido pela família. Desde então, passei a conviver de vez com o sol terrível, o clima intrigante, a fila enorme para cadastro dos familiares para o reconhecimento dos cadáveres. Passei a digerir a seco toda aquela angústia, tensão. Quando fui ao Cilon pela última vez antes do fato, imaginei que tão cedo não voltaria a pisar lá, ou até mesmo nunca mais o visitaria. Naquele dia, foi o meu ponto de descanso, higiene, hidratação e reflexão. Sentei na frente da sala dos professores, onde costumava passar os intervalos, e fiquei olhando para aquela porta. Dali, não sairia nenhum professor, membro da direção ou coisa parecida. Não apareceria nenhum(a) colega ou professor(a) querido(a), pra sentar ali e bater um papo. Pensava nos momentos que recentemente tinha experimentado ali, e a maneira pela qual acabei voltando. Fiquei mesmo pensando nas causas e nas suas consequências do que ocorria desde a madrugada. Fiquei imaginando o que dizer nos boletins, catando informações, mantendo contatos. Ver o colégio vazio foi a nítida impressão de que não era um dia feliz. Não haviam vozes, passos, sorrisos, abraços de amor, amizade, carinho, respeito, ensinamentos. O Cilon vazio representava o coração de todos os que perderam familiares, amigos, vizinhos, conhecidos na Kiss. O gritante silêncio era a amostra de que, por melhores que sejam as lembranças, nada é igual sem aqueles que nos fazem bem, nos alegram, nos incentivam. Mostrava que, dali pra frente, nossas vidas nunca mais seriam as mesmas.

A Ananda Müller, repórter da Gaúcha SM, foi precisa em um texto que fez pouco depois da tragédia. Nele, ela dizia que nenhum jornalista, radialista, pessoa que trabalhe com a mídia, está preparada, pois mais ''forte'' que seja, para lidar com esse tipo de situação. Não se ensina na faculdade o que dizer, o que fazer, o tom de voz, o tempo de entrada no ar. A vida é a melhor professora que existe, humanamente falando. Não há manual de instruções para ela. Vamos vivendo e aprendendo com cada coisa, cada fato, cada oportunidade aproveitada e desperdiçada. Não sai da cabeça ver a avenida Presidente Vargas lotada de carros, de gente, as pessoas grudadas ao rádio para saber a lista das vítimas, a presidente Dilma Rousseff passando por mim, chorando, a própria Ananda, abatida, mas cumprindo fidedignamente seu papel, os psicólogos que se dispuseram a estar ali, prestando apoio emocional, mas não aguentando e desmanchando em lágrimas. Não esqueço da Ana Bittencourt, uma das melhores jornalistas e figuras queridas que conheço, me encontrando no CDM, me abraçando, se dizendo aliviada por me encontrar vivo, mas igualmente debilitada, as mensagens que chegavam perguntando por mim, pelos meus amigos, se eu estava com vida, bem. Não esqueço o momento em que entrei no Farrezão e vi na minha frente dezenas de caixões, centenas de pessoas destruídas emocionalmente. Não sai da memória a onda de solidariedade que, de todas as formas, tentava confortar Santa Maria. Não esqueço dos pedidos para doação de sangue, dos voluntários com água, café, refrigerante, comida para todos, de graça. Cada um levava o que podia, ajudava da maneira em que cabia-lhe acessível, sem hesitar ou sofrer repreensão.

Eu imaginei ser uma pessoa forte, dura, que passava com facilidade pelas adversidades. Durante o ocorrido, fiquei cerca de 36 horas acordado. Naquele dia, segurei para não chorar em vários momentos, assim como nos dias seguintes. Coincidentemente, fui para São Leopoldo na segunda-feira (a tragédia foi em um domingo), uma viagem que já havia marcado há um tempo. Lá, as pessoas só me perguntavam do que tinha ocorrido, queriam saber de mim, que vinha de Santa Maria, o que tinha vivenciado. Na noite antes de voltar a cidade, não aguentei. No meu ponto de vista, era voltar para um pesadelo. Dias depois, relatei que passei a ter medo do escuro, pois ele me remetia à fumaça que causou a morte de todas aquelas pessoas, o desespero, à pilha de corpos nos banheiros, às pessoas tentando achar ar para respirar, uma porta para sair e não conseguiam. Cruel pensar que aquelas pessoas saíram para se divertir e nunca mais voltaram para casa. Saíram de uma festa para um funeral. Namorados morreram abraçados, chefes de família que ali sustentavam suas casas perderam suas vidas por causa de uma ignorância, e foi comprovado que não foi a primeira vez que ele fez aquilo. Ele achou que daria certo, como em todas as outras idiotas vezes que fez. Brincou com a sorte, com a vida dele e dos que morreram, dos que ficaram feridos, dos familiares dessas pessoas. Ele não matou ''somente'' 242 pessoas, e sim uma cidade inteira, que mergulhou em luto, e jamais esta ferida será cicatrizada.

Santa Maria passou a ser a ''cidade do incêndio da boate Kiss''. Praticamente esqueceram Inter-SM, Riograndense, os estudantes, os antigos ferroviários, os militares. Tudo por causa de um babaca que acendeu um produto ígneo dentro de um ambiente fechado. Um irresponsável que brincava com sua vida e com a vida dos outros. Saiu ileso da Kiss, mas moralmente está mais do que acabado, assim como o produtor da Gurizada Fandangueira, os donos da boate e os outros ''carinhas'' que estão livres do processo penal, mas que a sociedade sabe que têm culpa, e não esquecerá disso jamais. Faremos quantos minutos de barulho, quantos protestos, quantas cartas forem necessárias para que se faça uma justiça completa, fazendo jus ao nome. Que o bom senso não seja só uma pregação e sim um fato. Nada vai trazer as 242 vítimas de volta, mas que haja seriedade por parte das autoridades competentes, para trazer o mínimo de conforto possível às almas que aqui ficaram, mesmo com vários pedaços faltando.