Olhe. Pense. Reflita. Já!
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Um simples nostálgico
Na última sexta-feira, entre uma conversa e outra na aula de antropologia e cosmovisão franciscana onde discorria sobre alienação e ideologias, ouvi um comentário de algo que provavelmente falei...
- Ih, mas foi pra onde termina o mundo...
O dito, referente à minha ida pra Alegrete, falou mais do que qualquer texto que eu poderia ter lido e sustentou meus argumentos de forma impírica e humana, mais do que qualquer trecho de livro...
Lá, onde termina o mundo, encontramos pessoas ao final da tarde sentadas em frente às casas, numa prosa buena com o vizinho do lado, com o vizinho do vizinho... Conhecemos e convivemos com GENTE, e não damos bom-dia pelo facebook...
Lá, no fim do mundo, a única coisa que corre é o vento minuano, o resto anda conforme deve. E ninguém tem pressa... Reclamamos do vento norte, não do furacão que é o dia-a-dia...
Lá, onde o mundo acaba os cobradores existem, e cobram diariamente notícias. Querem saber da tua vida, de como anda, de que ajuda precisa... E a política da xícara de açúcar ainda existe. Não passamos despercebidos, passamos por alguém que somos... IMPORTANTES, e não cobramos somente pontualidade, favores e mensalidades...
Lá, onde acaba o mundo, nossas mãos religiosamente contornam cuias de chimarrão nas confraternizações semanais que a praça central hospeda. Mate este que mantém viva sua função acolhedora e fraternal. A bomba que carregamos em punho serve para sorver esta essência, e não nos tira a sobriedade e a razão...
Lá onde o mundo se encerra, preferimos o bolicho humilde da esquina ao supermercado de requinte... Isso porque as risadas e as conversas se sobressaem ao pão dormido que muitas vezes levamos embora. As sacoleiras ainda resistem ao tempo, e não necessitamos exibir dezoito sacolas de lojas caríssimas... Ainda conseguimos rir quando descobrimos que a botique refinada usa a mesma costureira que cose mal e mal nossas roupas... E que o tecido é o mesmo que cheirava a mofo no baú da casa...
Cuidamos das plantas, preferimos as cartas, marcamos lugares, e também pessoas... Buzinamos para mexer com conhecidos, visitamos a qualquer hora do dia, andamos de fuscão 80 e tantos e fazemos os outros rirem... Por engraçado, não por zombaria... Visamos campo aberto, nascer e pôr do sol, comtemplado por pássaros que ainda entoam melodias únicas, num espaço também singular... Arrodeamos sempre os mesmos lugares, e sentimos falta se longe, ao invés de enjoar...
Alegrete não tem hospital com heliporto, mas também, poucos precisam. Alegrete não tem Royal com cinema, mas tem uma tevê para quinze amigos... E se aqui tem o que o futuro exige, Alegrete tem o primordial que o futuro necessita: qualidade de vida.
O fim do mundo é como o mundo deveria ter fim...
Rúbia Keller Vieira
Acadêmica de jornalismo
Unifra - Santa Maria